psicanálise para quê?

Sunday, October 05, 2008

"SÍNDROME DO PÂNICO".


Quem leu o exelente livro de José Saramago "Ensaio sobre a Cegueira" ou assistiu o filme de Fernando Meirelles sobre o livro, otimamente retratado, me acompanhe. Os personagens ao ficarem cegos, não o ficaram pela via da escuridão, mas sim do branco, que é a junção de todas as cores e que no filme apaga todas as imagens, não somente do campo visual, mas como veremos, as certezas subjetivas também, onde após esta experiência, o sujeito terá necessariamente que se perguntar quem ele é.

Pensei que esta metáfora pode me servir para falar da chamada síndrome do pânico, pois a invasão da angústia Real no momento de crise, cega o sujeito para suas sensações mais lógicas de seu corpo e este sente medo de morrer ou perder-se de sí mesmo, ficando parado na frente de um abismo onde o sujeito pode literalmente cair, deixar-se levar enquanto tal. Neste momento podemos dizer que há algo que faz furo no campo do saber do sujeito e aí gostaría de usar esta metáfora, por ser este tipo de crise alguma coisa que é efeito da sintomática na Neurose Obsessiva, e é incomum ser encontrada na Neurose Histérica. O saber no obsessivo serve-lhe como defesa e assim é que enxergo esta metáfora, este saber como a cegueira branca que oblitera qualquer possibilidade de visão para além deste saber constituído e não permite que este saber tenha furos, por isso a declanchagem das crises de pânico. Estas crises podem servir ao sujeito para que este procure alguma forma de ajuda e infelizmente a mais comum é que este busque uma forma somente medicamentosa para lidar com este problema que de fato é de outra ordem, qual seja, um problema de estrutura subjetiva. Não quero dizer aqui que a medicação as vezes não se faça necessária em alguns casos, embora até hoje todos os casos que eu tenha tido sob meus cuidados, não tenha sido necessário e as crises não demoraram muito para desaparecer. Experimentem dar a pessoa no momento da crise uma dose de alguma bebida destilada( naturalmente se esta pessoa puder ingerir alcool, pois isto fará com que ela relaxe a grande tensão que isto provoca e leve-a até um espelho e faça-a ver sua própria imagem. Daí ela começará a falar e a crise desaparece rapidamente. Estou sugerindo isto como um paleativo no momento da crise, mas evidententemente não há como tratá-la sem chegar a causa. E a causa destas crises está neste saber absolutizado e no medo que este tem de perder alguma coisa deste saber, pois faz a fantasia de que esta perda gerará o caos, que ele irá se encontrar com seus desejos mais primitivos e estes desejos estão adscritos na maior parte das vezes, ao sexo como sujo e a todos os desejos escatológicos.

3 Comments:

  • At 4:50 AM, Anonymous Anonymous said…

    Dra. Silvia,

    Li e admirei muito o seu artigo sobre a Sindrome do Pânico - realmente ele pôde elucidar muitos pontos obscuros que pairavam no meu fraco entender sobre tal matéria. Entretanto, ha uma pergunta que não quer calar: o que é que eu posso contra o pânico do qual sou acometido sempre que penso numa cantora popular, indiferente a mim, mero fã dentre milhares de outros iguais que se acotovelam nos seus espetaculos, sejam eles realizados no Brasil ou em PortuGal. Dê-me uma luz, por favor.
    Juanito Ponc

     
  • At 7:36 PM, Blogger profiteroles ou carolina recheada said…

    silvia, como sempre seus textos muito bem escritos e com exemplos que ilustram sensações reais,que emplogam o aprofundamento das situações, sem medo...
    bjs
    carô

     
  • At 3:58 PM, Blogger silvia mangaravite said…

    "Minha cara amiga moro em um das maiores favelas deste pais e trabalho todos os dias em tantas outras e muitas vezes fico ruminando diante de fatos q estão diante de mim q de certa maneira todos acabam tendo um pouco de pânico e até depressão na verdade só não se fala mas abertamente sobre o assunto ou não se admite q se tem por exemplo em uma favela logo apos um intenso tiroteio é muito comum ver no semblante assim como nas atitudes das pessoas o pânico ainda presente e isso costuma se estender por dias até q se minorize até entra em uma falsa normalidade sim falsa por q na verdade o pânico esta lá pois todos sabem q momentos como aquele pode e vai se repetir é ai q neste processo de menorização surge a depressão as pessoas vão inconscientemente se isolando em busca de uma falsa defesa q acabam entrando na linha de risco maximo da depressão q é a solidão lugar difícil de voltar. E minha cara tudo isso pode e se repete em todas as demissões sociais é claro q cada um em sua estrutura."

     

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