psicanálise para quê?

Friday, April 02, 2021

  A estrutura e seus lugares: uma questão a ser interpretada.

Há o Real em jogo na formação do psicanalista. O real, vale lembrar, "aquilo que não cessa de não se inscrever".

Na ata de fundação da Escola Freudiana de Paris, Lacan estabelecerá aquilo que irá assegurar o funcionamento de sua Escola e a formação dos psicanalistas. O que não contradiz o que dirá num outro momento sobre a formação do psicanalista, ou seja, que ele nunca falou sobre a formação do psicanalista e sim sobre as formações do inconsciente, quais sejam, os sonhos, o sintoma, o chiste e o ato falho. Sobremesa* em nossa mesa, sigo dizendo que, ao psicanalista se impõe o dever ético de se haver com aquilo que o causou enquanto sujeito ao desejo.

De nossa práxis, Freud nos legou, "tomem cada caso como se nada soubessem dos anteriores", onde o saber reinventar o Real da psicanálise, se porá à prova privilegiadamente na clínica com crianças, pois é nesta clínica que o psicanalista é convocado mais radicalmente a não esquecer o que sempre restará nele do infantil. Pois no horror de seu ato comparece o saber sem sujeito que se produz quando o analista articula um significante a outro significante. É um saber que provoca uma fenda no sentido, e por um átimo o analista pode rememorar sua própria constituição, a montagem de sua estrutura e cair no desamparo. Mas o saber sobre o ter sido atravessado pelos elementos que o fundaram, permite que possa fazer neste ato, a identificação e a distinção naquela estrutura que está se constituindo referenciada a um significante, portanto passível de engendrar uma tradução naquele sujeito.

Neste momento, caso o analista não tiver sido atravessado e reconhecido os significantes que o fundaram, não estiver situado quanto aos lugares da estrutura, seu fantasma poderá ser convocado, e sua resistência necessariamente o paralizará.

O caso clínico que exporei aqui, me é bastante caro, pois foi no atendimento a esta criança, que aprendi que a interpretação é ela própria o ato de interpretar os lugares e o tempo da estruturação de um sujeito.

Quando comecei a atender esta criança, a radicalidade do tomar cada caso como se nada soubesse dos anteriores, se impôs a mim. E posso dizer a partir daí que, para que um psicanalista saiba ler a estruturação subjetiva numa criança, é absolutamente necessário tomar como premissa básica, que não haja insuficiência de linguagem para aquele ser, mesmo que ele ainda não fale.

O simbólico pré-existe ao sujeito, antes mesmo de seu nascimento, e é necessário que este sujeito por vir, esteja à espera dele, em algum lugar na fantasia de seus pais, para que ele venha a ocupá-lo primeiramente, para depois fazer-se consistir enquanto falta a ser, para tornar-se um falante. Portanto chamo de criança, aquele sujeito que ainda não adveio, não se estruturou, não realizou a montagem de seu fantasma.

Ao ser relatada a gestação desta criança, pude escutar as dificuldades dos pais em fazê-la consistir simbolicamente: a mãe só pôde perceber que a esperava no 5° mês de gestação. Os enjôos sentidos foram significados como um mal de estômago, a ausência de menstruação devia-se ao fato de estar amamentando sua primogênita, o volume aumentado de seu abdômen era aumento de peso e gazes.

Quando o psicanalista é procurado, o menino está com 2 anos e 7 meses e apresenta os seguintes sintomas: não fala, chora muito, bate continuamente a cabeça na parede, cai no chão como um morto, de olhos e boca abertos, machuca-se muito, caindo, trombando e esconde suas fezes em vários lugares da casa.

Como muitas vezes acontece, já havia passado pelo pediatra, que o encaminhou ao neurologista, onde lhe foram feitas investigações neurológicas e auditivas, este o encaminhou a uma fonoaudióloga. Encontrava-se em tratamento fonoaudiológico há 4 meses, sem que se observasse nenhuma mudança.

Na primeira entrevista, acolhi-o no primeiro instante com meu olhar: vi um lindo menino, naquela imagem que pareceu estar em suspenso, vi sua falta de olhar. Depois, acolhi-o com minha fala, disse-lhe que o escutaría no que quisesse me dizer.

Sublinho aqui o olhar e a voz, por serem os elementos pulsionais que começam a recortar um corpo significante num sujeito por vir, e, se um psicanalista no encontro com uma criança, não puder fazer uma suposição de sujeito, mesmo que sua estrutura não esteja "resolvida", não poderá avessar o método analítico, emprestando-lhe desejo, significantes e imaginário, que é o que se faz necessário em graves patologias infantis.

Este acolhimento, por se diferenciar daquele onde ele estava não implicado, teve efeitos. No momento em que nesta primeira entrevista ele arrastava o cavalinho fazendo um som como se fosse um carro, segui-o com outro cavalo, fazendo o som de pocotó, pocotó.

Ele pára, me olha pela primeira vez, olha os brinquedos e movimenta seu cavalo repetindo a palavra que ofereci, o pocotó. Sua mãe surpreende-se e diz: "ele gosta de você!"

Devo dizer que a aposta imaginária que fiz (a-a'), fazendo a suposição de haver um sujeito, apoiava-se numa teoria e creio absolutamente necessário ao receber uma criança, que o psicanalista tenha clareza sobre o modo de estruturação de um sujeito, para que possa ler as manifestações da criança, distinguindo-as antes que ela mesma possa fazê-lo.

Digo que esse acolhimento se deu de forma diferente, porque este menino viu-se reconhecido desde a primeira entrevista e nas seguintes. Continuou a reconhecer-se e não houve objeção de sua parte de soltar-se dos braços da mãe para entrar comigo na sala, desde chamando-o pelo nome e levando pela mão, passando a entrar quando era chamado pelo nome, até chegar tentar abrir a porta e ficar sentado no chão, colado à porta, esperando eu abrir. Ele se reconhecia.

Paralelamente ao atendimento da criança, propus uma escuta a sua mãe a seu pai, onde estes puderam recortar um lugar outro para este filho, incluindo-o na família de uma outra maneira.

As sessões do menino durante meses se deram em torno de alternâncias, de presença e ausência, esconde-aparece, carrinho vai-carrinho vem, comer o nada e achar delicioso e houve um momento em que ,quando cortei a sessão,  ele empurra a porta e diz NÃO e cai como um morto. Olhos e bocas abertos, ao vazio. Apesar de meu horror, aproximei-me e contornando-lhe os olhos com a ponta do dedo disse-lhe: Olhinho do Pedro, olha zangado pra Silvia, que disse para voce ir e você não queria. Boquinha do Pedro, diz pra Silvia que está com raiva porque tem que ir e não quer. Ele me olha sorrindo, levanta-se me abraça com seus bracinhos, se solta e diz: Tau Xilva. E sai.

Depois dessa sessão adquiriu um vocabulário bastante rico e começou por brincar com o proneme pessoal meu, seu e fazer traquinagem com isso, tentando me enganar e quando me vía enganada, caía na risada.

Até que um dia decidiu que não falaria mais errado e quando perguntei o que era isso, ele me disse que não era to que se falava, mas sim, estou.

Um dia, chega no meu consultório dizendo que tinha vindo me dizer que não ía mais voltar. Eu disse que estava tudo bem, então ele me disse que tinha uma história para me contar: "Quando eu era bebezinho, um dia minha mãe me deixou sozinho na pracinha dentro do carrinho. Aí eu caí no chão e todo mundo morreu." Todo mundo quem? Perguntei: "meu pai, minha mãe, todo mundo." E esse pai e mãe que você tem, são aqueles que morreram naquele dia? "sim, mas é que voce estava pasando na pracinha, me viu no chão, me pegou no colo e eu vivi de novo, daí todo mundo viveu de novo" Boquiabri-me.

Interrogar a clínica com crianças é fazer o reconhecimento de estrutura que põe em funcionamento as amarrações e desamarrações do Real, do Simbólico e do Imaginário, onde muitas vezes é possível que uma criança faça sua própria versão paterna.

Saturday, August 17, 2019

CONTRATA-SE PELA EXPERTISE E DEMITE-SE PELO PESSOAL

Vamos ampliar este título? 

Em qualquer relação humana, seja ela profissional ou privada, um dos lados, geralmente aquele que menos se conhece, pode apresentar comportamentos estranhos e outras dificuldades. Apresento aqui os efeitos de um tratamento psicanalítico, onde fará grande diferença nestas relações.

Sabemos que todos nós temos uma estrutura psíquica e que, por conta desta estrutura, apresentaremos determinados comportamentos- melhor dizendo, sintomas.
Quais seriam estes sintomas? No sentido orgânico, a febre é sintoma, por exemplo, de uma infecção. E no psiquismo, quais seriam esses sintomas? Comportamentos estranhos, que em alguns casos nem a própria pessoa entende, seria um exemplo. Com um agravante: há casos em que, aqueles que convivem com a pessoa em questão simplesmente não aceitam esse comportamento. E como se caracterizariam estes comportamentos? Por exemplo, pessoas que se mostram extremamente rudes, mas muitas vezes, não se percebem assim. Ou, noutro exemplo, pessoas que se alimentam com grande ansiedade, que comem muito rápido e em grande quantidade; ou, ao contrário, aquelas que "travam" e não conseguem comer nada. Há ainda os casos de pessoas que se sentem desanimadas para fazer qualquer coisa, ou cansadas sem que nada tenham feito. Enfim, são muitos e variados os sintomas. Mas precisa ficar claro que não se trata apenas de nuances cotidianas de alguma personalidade específica, mas sim de algo relacionado aos sentimentos vividos em cenas da primeira infância do sujeito.

Quantos casamentos são desfeitos por conta de diferenças pessoais, onde um dos cônjuges espera um tipo de comportamento, geralmente relacionado às suas expectativas e briga com o outro por bobagens relacionadas unicamente ao jeito diferente do parceiro(a), interpretando esse fato como um grave defeito? Sem notarem sequer que diferença é só diferença, e não defeito.

E no trabalho? Quantas pessoas em posição hierárquica superior, subjugam as demais, chegando ao ponto de humilhar pares e subalternos quando estes os desagradam? 

Em nenhum dos casos, porém, alguém se pergunta se o comportamento atípico seria o caso de uma manifestação sintomática. O fato é que, em diversas situações, as
 pessoas se assemelham a crianças alienadas em busca de se sentirem aceitas e amadas.

Neurose, uma palavra tóxica para leigos, é um conceito psicanalítico relevante. Dizemos que os neuróticos sintomatizam em três posições:

1) Olham para si, mas não veem o outro;
2) Olham para o outro, mas não veem a si mesmos.
3)Não veem a si mesmos, nem aos outros.

E, sinto dizer, mas se não tivermos a estrutura psíquica assentada na neurose, só poderemos tê-la nas psicoses ou nas perversões, pois além das neuroses, que é a estrutura psíquica da maior parte da humanidade, há as estruturas mais graves, como a psicótica e a perversa, tal como a psicanálise as definiu. E por último, ainda há o autismo, que sequer chega a se estruturar psiquicamente.

Infelizmente, apesar dos avanços científicos, ainda há preconceito quando se fala em procurar um profissional "para conversar"  - como se esta "conversa" fosse descaracterizada do aspecto técnico da psicanálise, noves fora aqueles que associam a psicanálise à loucura. Mas também vejo mudanças positivas: por exemplo, pacientes idosos, tais como A., 92 anos, que veio ao consultório com depressão, depressão esta tratada unicamente com medicação há 8 anos sem nenhuma melhora, A. caminhava amparada mostrando dificuldade de marcha, sem vontade de fazer absolutamente nada, desaprendeu inclusive a cozinhar e não queria mais sair de casa para nada. Em pouco mais de dois meses, passou a vir sozinha no táxi, ao meu consultório, voltou a cozinhar sua própria comida, ouve música todos os dias, pois adora cantar e faz ginástica. Há também o caso de R., 81 anos, que nada fazia ao levar "patadas" (expressão da própria), não se alimentava adequadamente, não dava atenção a seu aspecto pessoal, suas roupas, seus cabelos e unhas. Mudou: "não engole sapos" 9segundo a própria), vai ao cinema, ao shopping comprar coisas para ela e adora ir as festas e passeios. exemplos como estes servem para ilustrar o quanto as pessoas, independente da idade, conseguem se beneficiar da escuta psicanalítica, embora quando jovens, tal fato não fizesse parte de seus universos. Desconhecimento? Preconceito? O quê?

No fundo, é triste ver tanta gente sofrendo, sem noção de que tal sofrimento é possível de sanar, pois são sintomas e sintomas podem ser curados. 


Tuesday, August 22, 2017

DEPRESSÃO

A depressão comparece em duas estruturas psiquicas: Tanto nas neuroses quanto nas psicoses. Nas neuroses sabemos que se trata de um adensamento dos traços depressivos por alguma contingência na experiência da pessoa. Prognóstico bom, pois dependendo do trabalho feito, conseguimos tirar a pessoa do quadro depressivo em no máximo 30 dias. Nas psicoses, é mais comum encontrar a depressão na psicose maníaco depressiva. Isso não quer dizer que não a encontraremos em outras psicoses. Sabemos que nas psicoses, o prognóstico é mais difícil. E que podemos até retirar a pessoa da crise depressiva em curto prazo de tempo, mas o que conseguimos no máximo é uma estabilização, não a cura propriamente.
Como a OMS nos alertou no final do século passado, a depressão seria a doença em maior número de casos do século XXI. E como podemos ver, de fato as estatísticas nos mostram isto acontecendo. Por esta razão e como a dor é muito grande, tenho como direção do tratamento, indicar alguns "deveres de casa" ao paciente. Isso fazcom que o sofrimento da depressão diminua, possiblitando a ele  aprofundar mais as causas do aparecimento da depressão. Estes procedimentos são:
1) Adquirir um animal, de preferência um cachorro. Porque? Porque tira o foco de sí mesmo e consegue olhar para fora. O animal necessita ser cuidado e todos sabemos como se pode amar um animal. E o cachorro é o animal que mais interage com o ser humano.
2)Caminhar diariamente. De preferência ao ar livre, durante o dia. Comece caminhando por 10 min até conseguir caminhar por 1 hora. Porque? Porque todo exercicio físico aumenta a produção de endorfina e serotonina no cérebro, responsáveis pelo bom humor.
3)Ao acordar sair imediatamente da cama, mesmo que se arrastando. Entrar debaixo do chuveiro e pensar: a água está limpando todas as impurezas e dores de minha alma. O efeito é muito benéfico. Quem não acredita, experimente e verá.
4)Ligar o som com volume alto. Com músicas que te emocianam positivamente. Deixe a alegria brotar. Sabemos que a música penetra a alma e tem efeitos curativos.
Aquelas pessoas que estão sozinhas, sei que por mais dificil que seja fazer estas coisas, tentem. Ou que os parentes que lerem este artigo, podem ajudar.. 
Se concordam, me ajudem a divulgar?

Friday, April 14, 2017

PEQUENA NOTA SOBRE O DESEJO

Existem muitas maneiras de escamotear o desejo e na grande maioria delas não nos damos conta:a que vou citar aqui como exemplo, é uma bastante corriqueira. Aquela onde não cumprimos nossa palavra. Disse-nos um poeta, não me lembro qual e nem vou me dar ao trabalho de procurar, pois não concordo com o dizer, que é: "palavras voam ao vento...". Não concordo e não aprecio. Palavras tem consequências. Sempre. O que quer o senhor da loja onde vamos comprar algo que nos diz: " telefone entre 12 e 14 horas para lhe dar o orçamento". E não telefona. Quando voce liga as 16 h e pergunta o que houve, vai escutar alguma desculpa como por exemplo a que ouví outro dia,"desculpa-me senhora, o vendedor não apareceu para fazer o orçamento". "Culpa/desculpa" sintominha básico de desejo recalcado na neurose obsessiva. E a culpa é minha? Claro que não, é sempre do outro, não é? Que idade tem este senhor? 3 aninhos? Como consegue trabalhar? Certamente mal, penso eu. Se sua responsabilidade fosse clara, ele estaría sustentando aquilo que diz respeito ao seu desejo. E aquele outro senhor que diz: " Quero muito te encontrar para conversarmos ". "Vamos nos ver tal dia?" Você concorda e ele não aparecerá e nem telefonará para te avisar.
Chocante é ver a enorme alienação que existe em cada pessoa, que se não se enxerga, como irá enxergar os outros? Tornamo-nos mais irresponsáveis com o passar do tempo? É claro que há culturalmete um aumento enorme no que diz respeito a falta de cordialidade e civilidade entre as pessoas. Queremos isso? Eu sei que não, procurarei sempre me relacionar com quem tiver assentado em sí estas leis.

O QUE HÁ COM OS APLICATIVOS DE RELACIOANMENTOS?

Cada vez mais homens e mulheres utilizam estes diversos aplicativos no celular para buscarem parceiros para se relacionar. E isto dá certo?
Outro dia ouvi duas coisas que me fizeram escrever este texto: uma foi um rapaz dizendo que nestes aplicativos, 60% das mulheres são loucas, 20% só querem uma noite de sexo e sobram 20% para tentar namorar. A outra foi que a mulher estava tristíssima pois o homem com quem saía há um mês, dizia que a amava e na hora do sexo afirmava "sou seu". E desapareceu sem nenhuma explicação.
Noto que cada vez mais as pessoas que buscam estes relacionamentos sentem-se tristes, sozinhas e carentes. E estando assim, vão ao encontro do outro,  e, se este outro tem as caracteristicas que são valores para sí, acabam por se lançar de uma forma mega intensa devido a este buraco gigantesco que carregam em seus corações, e depois, o que acaba acontecendo?  No primeiro sinal de algum elemento que destitua esta ilusão de "é este" ou "é esta", se frustram enormemente, e acabam por desaparecer sem dar nenhuma explicação deixando o outro sem entender nada. Não há  ninguém perfeito e muitas vezes notamos que há reações medrosas do outro lado também. Porque de fato, o que anda acontecendo por aí, é que quase ninguém olha para dentro de sí mesmo, e projeta no outro, suas expectativas e suas frustrações também. Enquanto homens e mulhers não puderem desvendar seus medos, suas fraquezas, suas dificulades, suas dores, não olharem para dentro de seu interior, vão continuar sofrendo de uma enorme solidão e fazendo apostas no vazio.
Sugiro que quando conhecerem alguém, deixem a máscara de lado, sejam claros naquilo que são e que pensam. E sejam generosos com vocês e com o outro. Tentem conhecer e aceitar a diferença. Diferença não é defeito, é só diferença e geralmente serve para nos enriquecer.

AMORES LÍQUIDOS

Zygmunt Bauman em seu livro Amor Liquido já nos alertava sobre a fragilidade dos laços humanos, e hoje com os aplicativos em celulares para encontros amorosos, esta fragilidade está cada vez mais adensada.
Vemos pessoas extremamente carentes, sejam os loucos para se envolver, ou os que  buscam sexo casual, todos carentes e sem condição de fazer laços, pois sempre haverá a possibilidade de encontrar aquela pessoa melhor que esta de hoje. Ver tanta gente se propondo a no minimo falar com você, promove uma dificuldade enorme destas pessoas se relacionarem de verdade.
É uma grande ilusão que estes sites proporcionam. Cada um entrando com suas necessidades e expectativas e a maoir parte já cansada de tanto tentar engendrar um laço, se frustrando com cada parceiro que chega na maioria das vezes com palavras extremamente afetuosas e desaparecem depois do primeiro, segundo ou oitavo encontro.
Fico pensando porque estas pessoas não se colocam mais claras, já no pequeno texto onde se apresentam e assim que começarem a falar com uma pessoa, bloqueiem todas as outras possibilidades e se atenham a conhecer esta uma, de modo verdadeiro?
Sei de homens que já colocam neste dizer sobre sí que não querem mulheres dependentes financeiramente. É claro, que isso pode ser dito, e as mulheres também podem dizer, pois há muitos homens em situação de desemprego que buscam uma parceira para lhe apoiar financeiramente.
Mas além disso, podem dizer muito mais em poucas palavras. Contando que sejam claros e verdadeiros naquilo que pensam e sentem.
Este já é um caminho que possibilitará evitar uma série de encontros frustrantes.
E sabemos, ninguém nasceu para viver só.

Friday, November 25, 2011

E SOBRE O AMOR..MAIS UMA VEZ...

É impossivel o amor entre o homem e a mulher? Entre aqueles que ocupam a posição homem e a posição mulher?

A mulher quando na relaçao amorosa, o que ela busca? Ela quer SER amada. E o homem? Ele quer TER a mulher como sua, seu objeto de desejo e/ou amor.

Quando está amando, a mulher espera que o homem cuide dela, a proteja, e este cuidado pode variar muito, por exemplo, desde que seja seu provedor e neste sentido ela o indentifica como o pai ideal, até os cuidados mais simples, tais como, ficar ao lado dela quando ela estiver doente ou triste. Ou que ele se mostre mais romantico dos homens, cobrindo-a de mimos. Oferecer-lhe flores, presentes, abrir a porta do carro, dizer que a ama e a deseja, é o que todas esperam de seus amores. Mas como sabemos, nem sempre, por mais que os homens o façam, elas sempre estão se queixando. Isso porque a a maioria delas para sentirem-se existindo, precisam manter o seu desejo insatisfeito.
Agora, O homem quando ama, ele também espera que a mulher cuide dele. E quando isso acontece, ele está a indentificando como sua mãe.E muitas vezes ao identificá-la assim, ele pára de desejá-la sexualmente. E quando isso acontece, ele deixa de também levar flores, levar para jantar, etc. Agora, quando a deseja, ele tem muita dificuldade de sentir que a ama, ele não a trata como ela precisa ser tratada e a vê como a mulher mais sensual e sexual do mundo. De um modo geral ou ele estará amando ou desejando, e para a maioria deles esta junçao entre o amor e o desejo é extremamente dificil, fica-se na posição do ou/ou, ou isso ou aquilo. Isto nos mostra que ele para se reconhecer subjetivamente, precisa manter seu desejo como impossivel
O que quero então dizer aqui é que a relação amorosa é impossível?
Não, mas temos que a prender a lidar com o possivel dela, pois amar é dar o que não se tem e neste jogo do amor, precisamos saber, que na maior parte do tempo, ocuparemos as duas posições subjetivas ao mesmo tempo e neste caso, é bom lembrarmos sempre de nossos limites.

Friday, November 26, 2010

DIVERSIDADE SEXUAL( TEXTO APRESENTADO NO SEMINÁRIO: ESTATÍSTICA E INDICADORES SOCIAIS. NA UFRJ EM 18/11/2010.

Sabemos que o Censo, mais conhecido como recenseamento demográfico, é uma pesquisa sobre a população que traz informações tais como número de habitantes, como vivem as pessoas, qual a renda e composição familiar, dados de raça e religião, etc... Mas hoje em dia nos mostra principalmente como nos transformamos e nos diferenciamos ao longo das décadas. Pois houveram mudanças nos padrões não só demográficos, socioeconômicos e de organização espacial da população, mas principalmente nos costumes da população.

E é justamente sobre esses costumes que desejo falar. Pois não sei se todos sabem, mas foi incluído no Censo 2010 uma nova pergunta:

“Quem vive com você é do mesmo sexo ou do sexo oposto ao seu?”

Pergunta esta que vem trazer visibilidade ao número de casais homossexuais que vivem juntos ou "casados". Fizeram uma contagem parcial do número de homossexuais existentes no Brasil. Mas por que será que surgiu essa pergunta?

Todos nós sabemos que a homossexualidade existe desde a Grécia Antiga e que até hoje existem países onde a homossexualidade é punida com prisão e até morte. Agora, vamos ver o que é a homossexualidade?

Freud, o pai da psicanálise, que veio desvendar as questões mais obscuras da mente humana, possuía uma compreensão acerca da sexualidade humana como “perversa polimorfa”, ou seja, como, ao nascermos, não temos inscrito no nosso inconsciente qual é o nosso próprio sexo anatômico e muito menos qual é nosso objeto do desejo sexual, a princípio, “todos seres humanos são capazes de fazer a escolha de um objeto homossexual e que de fato, esta escolha foi consumada no inconsciente.” Ele dirá também, referindo-se a estrutura psíquica "normal", que originariamente somos todos bissexuais. Essa organização psíquica se constitui na primeira infância, ou seja, entre 0 e 3 anos de idade.

Em 1930, Freud assinou a primeira petição discriminalizando a homossexualidade e em 1935, dirigindo a mãe de um homossexual, afirmou que “a homossexualidade não é motivo de vergonha, não é uma degradação, não é um vício, e não pode ser considerada uma doença”. Mas foi somente em 1973 que a American Psychatric Association (associação psiquiátrica americana), deixou de considerar a homossexualidade como doença e isso se deu somente porque ativistas gays em 1970 e 1971 invadiram o encontro anual da APA. Ao mesmo tempo aconteciam outras manifestações nos EUA tais como a Stonewall, que vocês devem ter visto naquele filme “Milk”.

Mesmo assim existiam movimentos contrários ao da APA, como por exemplo 200 assinaturas colhidas na IPA – Associação Internacional de Psicanálise, que se colocavam contra e fizeram inclusive um manifesto tentando impedir a retirada da homossexualidade da lista de doenças.

Mas foi só em 1993, que a OMS – A Organização Mundial de Saúde – retirou a homossexualidade da lista de doenças. Vamos olhar para essas datas, porque que a humanidade tem tanta resistência a uma coisa tão normal quanto a homossexualidade?

Essas datas só nos mostram a enorme resistência da humanidade em aceitar sua homossexualidade recalcada. Pois de acordo com a própria questão da “perversão polimorfa”, em nossa infância, necessariamente teremos de fazer uma escolha do objeto sexual e deixaremos as demais possibilidades recalcadas. E para a maior parte dos sujeitos o que fica recalcado ou é a homossexualidade ou a heterossexualidade. Em minha prática clínica de mais de 30 anos sempre me surpreendeu aquelas pessoas que não questionaram em algum momento sua sexualidade, pois ela é sempre questão em todos os seres humanos.

E aquilo que vemos no social é que quanto maior for nossa dificuldade em aceitar em nós a homossexualidade recalcada, maior a possibilidade que temos de fazer deste outro, que pensamos ser tão diferentes de nós, objetos de nosso ódio, daí é que vemos tantas agressões e até assassinatos.

Voltando a questão dos homossexuais que foram parcialmente contados no Censo 2010 e sabendo que toda resistência sobre a sexualidade é inconsciente, arrisco-me a pensar o seguinte:

Lacan, ao pensar sobre os registros do funcionamento psíquico da realidade humana, nos diz o seguinte: Aquilo que está no real precisa ser simbolizado, pois o que existe no real, caso não seja simbolizado, retorna para o mundo de modo fantasmático. Ou seja, existem casais homossexuais que estão “casados” no Brasil, isto é real. O Censo 2010 começou a dar visibilidade a esses casais contando-os e isto os registra, certo? Isto é simbólico. Será que isto é um dado positivo que irá embareirar a fantasmagoria da falta de respeito aos gays e fazer com que haja uma mudança na lei de “união estável” no código civil? Código este que, perversamente, sobrepuja a soberania da Constituição Brasileira, onde está escrito que todos os cidadãos são iguais perante a lei?
Penso também que, enquanto formos tão atrasados e ignorantes, teremos que ter várias classificações para os seres humanos, que deveriam a meu ver serem nomeados somente assim: seres humanos.

Friday, February 26, 2010

CASAL FELIZ, EXISTE???

Vou dizer o que penso do ponto de vista da psicanálise sobre este artigo: O segredo do casal feliz: compartilhar alegrias
A chave para manter viva a magia do casamento é encontrar meios para promover aspectos positivos; a maneira de lidar com boas notícias pode ser mais decisiva para o relacionamento que a capacidade de oferecer apoio um ao outro em situações difíceis. Veja o que a ciência tem a dizer sobre a intimidade
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/o_segredo_do_casal_feliz_compartilhar_alegrias.html



CASAL FELIZ: ISTO EXISTE?

Palavras totalizantes não correspondem a nenhuma realidade. Primeiramente porque casal é uma palavra que define duas pessoas que escolheram estar juntas de uma forma bastante particular para cada uma delas. Segundo porque a felicidade enquanto toda não existe, pode ser até que alguns se encontrem felizes várias horas de seus dias, mas o tempo de uma existência é muito para este ou outro sentimento prevalecerem devido a complexidade do sentir do ser humano.
Mas, de qualquer modo, acredito que possa um casal ter mais bons sentimentos um pelo outro em relação a serem um casal do que sentimentos ruins. Mas isto depende de um trabalho constante, vou dizer porque:
Como se define um bom casamento? Ou um bom namoro ou relacionamento?
Para que um casamento ou relacionamento dure um bom tempo ou para toda a vida, é necessário que as pessoas envolvidas por se amarem tenham cada uma sua vida tomada de forma particular. e que além de gostarem de fazer sexo juntas, gostem muito de conversar. Digo isto porque casamento onde um não tome o outro como objeto de seu desejo sexual ou não se interessem em conversar, acabam ou continuando juntos infelizes ou se separam muito rapidamente.
Não há ninguém igual a ninguém neste mundo. E cada um tem seus próprios interesses, sejam da ordem do profissional ou pessoal e isto é fundamental, pois, apesar de também ser necessário existirem projetos que sejam compartilhados um com o outro, de preferência que estes sejam muitos, não é saudável abrir mão de seus projetos pessoais para se manter atraente um para o outro. O problema é quando um dos dois ou os dois não aceitam que o outro seja diferente dele e fica tentando mudar o outro para que se adeque ao seu jeito de ser, de preferência que aja como ele próprio. Se pudermos pensar que é a não aceitação das diferenças que provoca as guerras no mundo, talvez possamos começar a pensar em aceitar as diferenças do outro ser humano que está alí ao nosso lado.
A razão pela qual um tenta controlar o outro, modificar o outro é por não aceitar o outro como pensando diferente de sí mesmo. Ou seja: todo amor é puramente narcísico, especular? Lacan já nos dizia: amar é aceitar a diferença. A paixão é somente da ordem da ignorância, o amor é da ordem da diferença.
Primeiramente nos apaixonamos e só depois é que se constrói a relação amorosa. E cada dia mais, as pessoas estão cada vez mais narcisistas e quando aparece alguma coisa no outro que não os satisfaz, rompem os laços com a maior facilidade. Isto é a grande burrice de nossa contemporaneidade, a burrice da neurose, que nos faz repetir os mesmos padrões de relacionamento em todos os laços. Repetir, repetir, até morrer, estamos fadados a jamais encontrar o chamado "verdadeiro amor"? Ou então vamos trabalhar em nós mesmos a aceitação das diferenças para assim acedermos ao desejo de amar.