psicanálise para quê?

Sunday, July 19, 2009

COMO NASCEM OS BEBÊS? OU, A CONSTITUIÇÃO DO SER FALANTE.
Desde que a psicanálise existe, Freud observou a importãncia daquilo que se passava na experiência significante com a criança e como aquilo era determinante na constituição daquele ser. A partir de então, sabemos que uma criança se constitui como sujeito, se estrutura psiquicamente até mais ou menos 5 anos de idade e que todo sintoma apresentado por um adulto, é proviniente desta sua apreensão dos significantes advindos do outro que o constituiu. E que desta forma, do lugar onde cada um é esperado na fantasia inconsciente de seus pais, é que cada falante poderá se estruturar dentro de uma das tres posibilidades, ou nem chegar até uma delas, como é o caso de um autista, mas se puder se constituiir, melhor que se constitua como neurótico, ou seja, se estruture dentro desta cadeia significante que lhe dá acesso a linguagem como usualmente, a maioria das pessoas a tem, ou seja, metaforonímicamente, podendo fazer metáforas e metonimias, coisa impossível para aqueles que se estruturam na psicose, por exemplo. Na estrutura perversa, há a possibilidade da fala se dar como na neurose, ou seja, metaforonimicamente.
Potanto, temos três formas de estruturarmos, quais sejam:NEUROSE, PSICOSE, PERVERSÃO. E há ainda uma forma chamada de AUTISMO, que para alguns psicanalistas é chamada de uma quarta forma de se estruturar, mas que outros, como eu, não chamo de estrutura, isto porque ao sofrer uma intervenção quando ainda a criança é bastante novinha, há casos de intervenções desde os primeiros meses de vida e tenho em minha clinica, uma experiência com uma criança que saiu definitivamente de seu estado autístico que iniciou o tratamento com 2 anos e 8 meses, me impossibilita de tomar o autismo como estrutura, pois a estrutura é o limite, não se modifica a estrutura, o que se pode fazer é o desmonte das identificações e assim ir de encontro com a verdade do desejo de cada sujeito, para somente então decidir o que fazer com sua verdade.
Resumí desta maneira, o de que se trata na constituição do sujeito. Falarei agora disto de uma forma mais fácil para os leigos entenderem claramente:
Ao nascermos caimos num mundo simbólico que nos espera. Nos espera com as palavras ditas por nossos pais( vamos tomar aqui como se todos fossem nascidos com pais, ok?) sobre nós, que somos lindos, maravilhosos, temos os olhos de nosso avó paterno,a doçura da vovó e por aí vai, até irmos crescendo e nos manifestando, vamos nos comunicando cada vez mais com nosso universo social e como isto será aceito ou recusado é que determinará nossa estrutura. Mas uma coisa é certa e segura: precisamos falar com nossos bebês desde o nascimento, falar com ele e sobre ele, por isso que acentuo aqui a importancia fundamental da maneira como somos falados e do quanto isto é determinante na constituição de nossa estrutura e de nossos sintomas. Ex.: uma crinça de 8 anos quando perguntada por mim o que ele pensava ele sobre suas reações agressivas e violentas dirigidas a sua mãe, pai irmã, começou a chorar de uma forma extremamente sentida e me disse: "eu não sei, eu não sei, não quero fazer, mas faço sem saber" e ao perguntar a seu pai sobre o nascimento do garoto, ele me disse: " o bicho já nasceu revoltado, puto da vida, sabe aquele pano que enrolam a criança depois de vestí-la? Saiu arrancando aquele pano, revoltado, não quería ficar amarrado". Este menino reagía com agressividade toda vez que alguém o contrariava ou simplesmente tentava fazer parte de algo que ele estava fazendo. Um bebê que é falado como "bicho" "revoltado","puto da vida" e "não queria ficar amarrado", irá reagir com um saber sobre seu ser que vem do outro e que ele não tem acesso conscientemente, simplemente age aquilo que é do desejo do outro.
Por isso é fundamental que falemos com e da criança quando ela nasce, uma mãe muito depressiva, pode somente cuidar do corpo, alimentando e higienizando e não falar uma palavra com seu bebê, não cuidar de dar suas palavras, com seus sentimentos, "tive medo de deixá-lo triste", disse-me uma vez uma mãe e isto não o é sem efeitos, podendo ocasionar uma dificuldade muito maior na estruturação desta criança, por isso, vamos ficar atentos para com aqueles que cuidam dos bebês e atentem-se para as palavras que irão lhe oferecer.