psicanálise para quê?

Tuesday, May 27, 2008

RELATIONSHIP

Os laços de amor entre duas pessoas "adultas" em nossa contemporaneidade estão cada vez mais adscritos as leis do mercado. Explico: em nossa realidade do consumo, cada vez mais usamos e descartamos objetos que são desejados e descartados rapidamente, porque a industria já inventou outro para consumirmos e esta rapidez e facilidade de usar objetos, gozar rapidamente de qualquer coisa, teve efeitos muito diretos nos laços de afeto.

Os laços antes disto eram construidos, sabíamos como cultivar e fazer florescer um laço, sabíamos tolerar um pouquinho mais as diferenças quando começávamos a vê-las e ao construir este laço, era como construir uma casa, colocavamos um tijolo a cada vez, um a um, uma pessoa colocava um e a outra colocava outro e ninguém diante de um conflito saía derrubando a construção por qualquer motivo, muito menos os mais torpes.

Agora neste momento em que vivemos, ao menor sinal de desagrado( ele ou ela não come com elegancia, não faz ginástica, está um pouquinho acima do peso, tem espinhas, etc, qq bobagem mesmo), viramos as costas para uma pessoa e buscamos outra na prateleira do supermercado. Os sites de encontros para relacionamentos são um ótimo exemplo para isto. Não temos paciencia para construir um laço, saímos correndo em direção a outro sem nos darmos ao trabalho de nos fazer ver pelo outro e muito menos nos deixar ver por este outro. E ao mesmo tempo nos defrontamos com a expectativa frustrada de um podería ter sido ótimo viver este amor com esta pessoa( digo isto pq o amor que sentimos é sempre nosso amor com o qual enlaçamos o outro ou o desenlaçamos), mas não houve tempo.

E isto não quer dizer que desistimos de amar, estamos sempre buscando, mas não entendemos ainda que tolerar é possibilitar e não um modo de impedir uma manifestação de nossa individualidade, que aceitar a diferença pode ser uma ótima maneira de aprender algo novo, que acrescente e não subtraia, que os outros não são melhores nem piores do que nós, são apenas diferentes.

E que enquanto insistirmos em nossa alienação aos comandos de uma sociedade consumista, enquanto não pensarmos um pouco sobre o que nos acontece, o que podemos construir em termos afetivos é muito frágil e no fim das contas, o que nos resta de fato, bens de consumo ou afeto?